
Coitado do meu pai, sujeito calmo sujeitado pelo casamento. No final das contas, era da carteira dele que saia cada centavo que ia pro pastor e pra mim. O homem de Deus devia gastar em prostitutas e ternos, eu gastava em contas, comida, erva, chope e tequila. E meu pai trabalhava. Mas não quero falar do meu pai, coitado. Quero falar daquela igreja lotada, cheia de gente perdida, cheia de falácias e de esperanças infundadas. E eu cumprindo meu insignificante papel na peça, impaciente, salivando enquanto pensava no meu chope gelado e tentava ignorar os berros do pregador.
Finalmente, o fim. “Filhinha, volte pra casa, isso é uma besteira, para que quer ficar longe da gente?” (Porque não quero ser tua filha, não quero sua loucura me invadindo todos os dias, como se já não bastassem esses cultos uma vez por mês.) “Quero só construir minha própria vida, mãe. Quero ter essa responsabilidade.” Quero é andar nua pela casa, transar com o Vi, fumar meus baseados, beber minhas tequilas, mas minha mãe não entenderia isso. “Querida, toma seu dinheiro. Peguei mais cem pra você comprar umas roupas novas, essas que anda usando são horríveis”. Mais cem! Jesus salva! “Brigadinha, mãe.” E assim nos despedimos. Era nossa dose mensal de Deus, amor maternal e dinheiro. As coisas precisavam mudar. No começo, o Vi sempre trazia erva, mas agora eu é que tinha que dar a grana. Dava tudo pra ele e pouco recebia em troca. Com minha mãe, era gospel e amor de filha em troca das contas pagas e mais uns trocadinhos. Com o Vi, era algo mais nebuloso e eu sentia que cada vez mais eu levava desvantagem no negócio.
7 comentários:
você escreve bem.
sua aversão por pastores ficou ainda mais nítida.
amiga, o Marcelo deixou as xerox aqui em casa. se quiser posso deixar na portaria do teu prédio ou então vc passa aqui em casa no domingo. vê se olha teus e-mails, já te mandei uns 20!
antes que brigue comigo, adorei teus textinhos. sabe que é minha amiga mais talentosa
;)
Texto muito bom. Prende o leitor até o final e deixa uma agradável sensação de querer mais. Agrada essa introspecção na alma do personagem narrador e essa "concupiscência" com nossos verdadeiros sentimentos.
Oportunamente, lerei mais.
Grande abraço!
Eu sinto pena dos "fiéis" que deixam esses parasitas pseudo-europeus cobrirem o espaço vazio na vida deles. Mas fazer o quê, sempre foi assim...
...Que Deus te abençoe sempre! erva..aqui em recife na beira-mar faz bem...
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